São 40 anos que os brasileiros lutam contra a epidemia de HIV. A história indica que os primórdios da doença foram dominados por preconceito, terror, desconhecimento e opiniões equivocadas. O primeiro caso data de 1983, com notificação no Estado de São Paulo. Trata-se de um jovem com febre e perda de peso, bem como gânglios pelo corpo, diagnosticado com tuberculose disseminada.
A doença surgiu em 1981, nos Estados Unidos, em homens que apresentavam quadro de imunossupressão grave e infecção por citomegalovírus, vírus da família herpes que causa infecções em indivíduos com sistema imunológico comprometido.
Durante o 2º Congresso Brasileiro de Infectologia, em 1983, outros casos foram relatados. E desde o primeiro, houve questionamentos e divergências entre os profissionais de saúde, no sentido de considerar ou não a Aids um problema de saúde pública. Porém, o Ministério da Saúde, considerava o número de casos iniciais pequeno e estava preocupado com outras doenças, como malária, leptospirose, desnutrição infantil e febre tifoide, não adotando nenhuma medida em relação a Aids. Por outro lado, os profissionais de saúde alertavam sobre o número de casos crescentes no exterior, em especial, nos Estados Unidos.
São Paulo foi a primeira cidade brasileira a diagnosticar um caso de Aids. Sob pressão social, foi estruturado o serviço de atendimento para a síndrome na Escola Paulista de Medicina. Foi então que iniciou a investigação de casos, com criação de uma ficha epidemiológica, programas de ação de vigilância, grupos de apoio, locais para internação de doentes e para assistência ambulatorial.
A referência para atendimento de pacientes ambulatoriais foi o Serviço de Elucidação Diagnóstica, contando com equipe multiprofissional. Além disso, foi criado o Disque-Aids, projeto pioneiro e adotado posteriormente por outras cidades brasileiras. Estruturava-se o primeiro programa de Aids público do Brasil.
Durante os anos de 1983 e 1985, os casos começaram a ser notados em praticamente todas as capitais. Após São Paulo, Rio e Rio Grande do Sul terem suas experiências iniciais, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Ceará e Pará começaram a buscar fontes para o atendimento de Aids.
Em 1985, é realizada a primeira reunião de Aids do ministério, com a presença do professor titular da Faculdade de Medicina da USP Ricardo Veronesi, o coordenador do Programa de Aids de São Paulo, Paulo Teixeira, e Aguinaldo Gonçalves, chefe da Divisão. A reunião resultou na criação de uma ficha de notificação de investigação epidemiológica. Na TV, vai ao ar uma campanha tendo o jogador e médico Sócrates como porta-voz, que ficou conhecida como “campanha do Sócrates”.
A partir de então, no mesmo ano, o Ministério da Saúde formulou suas diretrizes gerais sobre Aids. São Paulo foi escolhido como referência nacional, dada sua experiência pioneira no manejo dos casos e medidas de controle. Pela primeira vez foram desenvolvidas normas de vigilância epidemiológica, manejo clínico e biossegurança.
Em 1988, o Ministério da Saúde, seguindo orientação da Organização das Nações Unidas (ONU), criou o Dia Mundial de Luta contra a Aids, celebrado sempre no dia 1º de dezembro, para conscientizar os brasileiros sobre a Aids e o HIV. Alguns anos depois, em 2017, o governo federal lançou a Lei 13.504, que institui a Campanha Nacional de Prevenção ao HIV e à Aids, movimento chamado popularmente de Dezembro Vermelho, que é a cor que simboliza a luta contra a doença e o respeito às pessoas soropositivas. Seus objetivos, no Brasil, são os seguintes:
- assegurar os direitos humanos das pessoas que vivem com HIV ou Aids;
- assistir e proteger as pessoas expostas ao vírus;
- promover eventos de conscientização sobre o tema.
A campanha do Dezembro Vermelho, seguindo diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), deve ser articulada, anualmente, entre o governo, a sociedade e os organismos sociais nacionais e internacionais. Tem sido essencial, atualmente, para o combate à Aids, uma vez que tem o objetivo de conscientizar a população sobre a doença, divulgando informações adequadas sobre os métodos de prevenção e tratamento dessa epidemia no país.
Em todo Brasil, os estados se organizam para celebrar o Dezembro Vermelho e fazer a diferença na vida das pessoas, com ampliação da testagem de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), maior acesso a autotestes de HIV e distribuição de insumos de prevenção contra as ISTs, como camisinhas masculinas e femininas. Se por um lado podemos, sim, afirmar que são significativos os avanços da ciência e da tecnologia no combate ao HIV, por outro, precisamos dizer que a prevenção continua sendo o melhor caminho.
Apesar de a infecção pelo HIV ser considerada estabilizada no Brasil, ainda vivenciamos índices elevados. Entre os anos de 2011 e 2021, mais de 52 mil jovens de 15 a 24 anos com HIV evoluíram para a síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids). Essa condição crônica pode ser controlada por meio do diagnóstico oportuno e do tratamento, para que as pessoas vivendo com o vírus vivam mais, melhor e não transmitam HIV por via sexual.